Um cenário a observar – Artigo de Stelio Dias, Presidente da AEI

Stelio Dias
Stelio Dias é Presidente da AEI

 

O Blog do prof. Roberto Belling levou-me ao livro do Prof. José de Souza Martins da USP, A Política do Brasil – Lúmpen e Místico (ed. Contexto, 2011, leitura recomendada).

É leitura de reflexão. Analisa o processo político brasileiro. É leitura para quem se preocupa com o futuro do país e procura alternativa frente ao buraco negro que estão nos metendo.

Descobri o Prof. Martins através do seu livro anterior O Poder do Atraso – Ensaios de Sociologia da História Lenta (Ed Hucitec, 1994 – leitura também muito recomendada).

Esse novo trabalho, ”A Política no Brasil”, poderia ser uma atualização critica do processo político brasileiro com cores acadêmicas mais fortes e análise mais profunda.

Esse livro mostra que a sociedade perdeu sua representatividade política. Os partidos políticos não representam nada. Os dirigentes partidários já não escondem nem seus umbigos, nem os seus interesses.

As forças partidárias, que um dia traziam um corte da sociedade, vivem um acordo em que um partido (PT) fica com a social democracia populista e outro (PSDB) com a social democracia das elites.

Um dia, quem sabe, nós promoveremos um encontro numa esquina mais real da vida política e as dívidas sociais e históricas serão pagas.

Enquanto isso, assistimos um partido congressual (PMDB) que sustenta a demanda legislativa pela via fisiológica de ocupação de espaços e fruição hedonista do poder e por conseqüência fornece o que chamam de governabilidade.

As elites trabalham com o corpo no capitalismo do Século XX e com a cabeça no capitalismo do Século XIX. O sistema patrimonial não as atinge. Quando podem o estimulam. Sentem felizes por consumir o moderno, embora também vítimas presentes e futuras do arcaico sistema político.

O livro mostra que continuamos com as estruturas fundamentais da sociedade do passado: instituições, métodos, valores, concepções políticas, processos de relacionamento Estado Sociedade, e governos fantasiosos e anódinos.

É o retrato do que o autor define como “sociologia da historia lenta”. Uma história que freia as necessidades de mudanças sociais e as demandas de uma camada ainda forte e não organizada de excluídos.

Lumpens aparece no livro como referência à expressão germânica de trapos, excluídos totalmente do processo político e participativo da sociedade.

O prof. Martins diz que certa feita ouviu do líder dos sem terras, João Pedro Stedile, que quem conseguisse organizar esses lumpens, mudaria o país. Stedile representa a voz radical dos movimentos do PT e vez por outra passa-se pelo seu braço armado.

A Presidenta Dilma, que deve ter lido o Prof. Martins, quer com sua faxina da miséria chegar até a esses lumpens. Não disse ainda como. Se no modelo Lula ou num mais inclusivo e mais cidadão.

Até chegar a esses lumpens, sabe a Presidenta que tem que passar pelos partidos grandes e pequenos, distribuir emendas, cargos e favores na Petrobrás.

Isso se dará no dia que a consciência política preservar o coletivo e trabalhar em favor de uma sociedade justa o que ate agora tem sido feito num imenso tabuleiro de jogo de palavras.

Stelio Dias – Presidente da Associação Espírito-Santense de Imprensa AEI