Vamos Conversar… É a Mãe Moro…

 

Vamos Conversar…

Stelio Dias

 

É a Mãe Moro…

Quem não ouviu esse xingamento: é a mãe. Dos xingamentos é o que mais atinge. E o que mais ofende. Na Infância e na adolescência é a ofensa mais carregada de raiva. É a sua mãe a ofensa definitiva. Mesmo quem não teve mãe e não viveu o seu desvelo e o seu amor. Ouvir do desafeto, tua Mãe é tão idiota que tropeçou no fio de um telefone celular é cruel e definitivo grito de guerra.

Na minha memória literária a mãe Sinhá Vitoria em Vidas Secas de Graciliano Ramos resumia o valor da mãe: para ela o sonho era possuir uma cama de couro igual do patrão Tomas Bolandera. Para os filhos uma educação que os impulsionasse no mundo. O romance de Graciliano gravou na minha memória o significado de mãe. Graciliano em Vidas Secas se esmerou no perfil de mãe de Sinhá Vitoria e me comoveu na narrativa da cadela Baleia e de resto fiz um dever de casa, ainda no ensino médio (acreditem): descobrir a intertextualidade em Vidas Secas. Senti em Graciliano Ramos a importância da mãe no contexto da família.

Não procure entender o amor de mãe, não procure descreve-lo, nem senti-lo. E indescritível e indecifrável. Seja mãe Sinhá Vitoria, Seja a Mãe Maria dos Católicos, Seja mãe sem letras. Seja a mãe intelectual. Seja a Mãe pecadora, Seja mãe virtuosa. Seja mãe cruel que abandona seu filho. No fundo, no fundo você vai encontrar sem entender o que Mario Quintana descreveu como um ser maior do que o Céu e só menor do que Deus.

Tudo isso me veio a cabeça quando vi as declarações da Dona Odete, mãe do Juiz Sergio Moro, regente do capitulo mais importante da Historia Moderna do Brasil. No dia Internacional da Mulher recebeu homenagens que por certo não as solicitou. Agredida por alguns fundamentalistas pró Lula, durante as homenagens respondeu com lições de humildade: a “manifestação é normal, são fieis, idealistas…” “Acho que eles têm toda a liberdade pra se manifestar dessa forma”. “Uns gostam dele (do trabalho do filho). O livre arbítrio é para todos”. “Tenho orgulho do meu filho, da força tarefa da Lava Jato, da Policia Federal. Formam uma equipe que esta trabalhando, visando o bem do Brasil”. Tudo estava dito

Tal mãe tal filho. O Brasil está em falta de homens públicos como Sergio Moro. Tentam torna-lo herói. A Imprensa tenta elevá-lo a celebridade. Onde está o valor do Juiz Moro? Exatamente em fugir da contaminação que a Imprensa insiste em submetê-lo. Enquanto as maiorias dos homens públicos não perdem luz nem quando a porta da geladeira abre, Moro não aceita nenhuma luz que junto leve a câmera.

Recebeu a maior manifestação de apoio e reconhecimento do País inteiro. Respondeu com tranquilidade ao declarar: “quem não ficaria orgulhoso, é reconhecimento à magistratura do meu País” que isso “sirva de alerta para os políticos e partidos para que trabalhem contra corrupção”. Não precisou materialismo dialético. Não dividiu o País. Não precisou de Marx, Engels, Lenine, muito menos de falsas baboseiras gramscistas, oriundas de prateleiras da intelectualidade de balcão, sempre citado, até em receita de Chefs de Cuisine. Moro, simplesmente cumpriu o seu dever de magistrado.

Poucos sabem que como jurista fez parte da equipe da Ministra Rose Weber do STF como especialista em lavagem de dinheiro. O Juiz Moro aparece sempre como um Magistrado igual a todos os seus colegas que passaram por um concurso publico de duríssimas etapas e que formam a Justiça Federal do País. Não quer ser estrela do processo Lava Jato quando diz com humildade que apenas é peça de uma orquestra, Força Tarefa, composta da Policia Federal e dos Procuradores da Republica e só. Não exporta academicismo, nem exorta frases de efeito para ser citado como intelectual. Ao contrario, questionado sobre suas decisões em cima dos poderosos responde com a frase do Homem Aranha das Historias de Quadrinhos: “quanto maior o poder maior a responsabilidade”.

O PT e seus fundamentalistas perderam tempo em repetir a mesma tática de jogo em cima de uma mãe de maneira cruel e desrespeitosa, mãe hábitos simples da sempre admirada Curitiba, que criou bem o seu filho e respeita o próximo. Um filho que cumpre seu dever e que até bem pouco tempo se deslocava para o Fórum de bicicleta e não o faz mais por questões de segurança e nas suas (dele) decisões não tem medo de conta bancaria mesmo as mais abastadas com dinheiro da corrupção. Não precisa citar poder das classes dominantes nas suas sentenças para que respeitem o dinheiro publico. Não preside as audiências com ternos de fino corte nem exibe vinhos Romaneé Conti para se mostrar poderoso junto às elites.

E apenas filho de Dona Odete quem, sem holofotes, faz trabalhos sociais para a Igreja. Não tem ONG, não recebe dinheiro publico para realizar seu trabalho social, muito menos se diz da sociedade civil organizada e, como o fez publicamente, respeita as manifestações, mesmo as mais bestiais e sem sentido, como a que foi feita contra ela, pelo PT, recentemente em Curitiba.

Juiz Sergio Moro, Dona Odete é a mãe…

E você, é realmente o cara que não precisa de aval de Obama, mas do reconhecimento dos brasileiros.

E teve. …

 

REGISTRO

As manifestações de rua contra o Governo da Presidente Dilma, a corrupção nos organismos públicos. As manifestações que insatisfação em todo o País. Insatisfação com a Presidente Dilma que no sistema atual representa todo o Governo. Foram um duro recado quantitativo das ruas e das pessoas que não usam de artifícios das estatísticas de margem de erro; isto é, cinquenta por cento, mas pode ser cinquenta cinco ou 45. Não usa de artifícios de linguagem, metáforas frases feitas para uso e gozo da mídia. Foram manifestações de pessoas que estão dizendo de forma pacifica e democrática, basta.

 

O LIVRO

Livro O Culto do Amador

O Culto do Amador, – Como Blogs, Space My, You Tube e a Pirataria Digital estão Destruindo Nossa Economia, Cultura e Valores – de Andrew Keen – Editora Zahar. É um livro com excelentes fontes de pesquisa, mas de conclusões que geram debates e controvérsias. É um livro que para se concordar com as premissas e discordar de algumas conclusões. Edição de 2010, mas com afirmações que cabem hoje, mormente quando o Presidente da Whats up no Brasil é preso por desobedecer às ordens da Justiça. Comentando sobre a Web 3.0 e o Projeto Knowitall (conhecer tudo e todos) da Universidade de Washington o autor conclui com a instigante questão: “Que acontecerá com os seres humanos do futuro, que terão de coexistir com o banco de dados supremo do Google? Que será de nós numa era de vigilância digital total? “Todo mundo sabe”, conclui o autor. E um livro que os políticos não deveriam terceirizar a leitura para os seus marqueteiros.

 

O FILME

Ponte dos Espiões

A Ponte dos Espiões. Filme apto para receber o Oscar se não existisse no seu caminho SpotLight já registrado aqui. Quem for ao cinema acreditando que Spielberg vai lhe dar um filme de ação com lances de espionagem de governos vai encontrar um Spielberg oferecendo diálogos (longos é verdade) inteligentes com o sabor de falsos patriotismos e condutas irregulares de políticos e governos. Os verdadeiros patriotas são os que menos contam. Isso até irrita o espectador mais atento. O recado Spielberg é dado pela atuação do advogado de Seguros (Tom Hanks) deslocado para uma missão que ele mesmo dizia não qualificado para tal.

 
 

A FRASE

“A meu ver, cabe ao Senado, uma vez admitido o processo de impeachment, apenas julgar o presidente e nunca julgar, inicialmente, a Casa do Povo e, se entender que a Câmara não errou julgar, em segundo lugar o presidente. Nenhuma das instituições legislativas está sujeita ao julgamento de outra pela lei maior (artigos 44 a 58), razão pela qual entendo, “data máxima vênia”, que os eminentes ministros do Pretório Excelso invadiram área interditada por ser da competência exclusiva do Congresso”. – Ives Gandra Martins, Advogado Constitucionalista, Professor Emérito da Universidade Mackenzie e autor de vários Livros de Direito.

 

Stelio Dias, jornalista, professor (Ufes e UnB), preside a AEI e exerce a vice presidência na FENAI e ABI-DF. Foi Deputado Constituinte na Câmara Federal.