José Carlos Sfalcin
Ao apagar das luzes do governo Dilma, vê-se uma presidente acuada, de um lado pressionada por sua base aliada, principalmente pelo partido PT e PMDB, sedentos de poder, do outro lado, por uma avalanche de investigações de corrupção pipocando a cada dia, respingando no governo e toda sua base de sustentação, pior, com credibilidade em baixa, descontrole dos gastos públicos, falta de recursos para futuros investimentos, necessidade de ajustes nas tarifas públicas, como energia, combustíveis e controle da inflação para o teto da meta.
O governo Dilma, quando sucedeu ao governo Lula, sabia a herança que iria encontrar. Teria que adotar algumas medidas como, p.ex., fazer ajustes na estabilização da economia, investimentos na área social, firmar participação do setor privado nas obras do PAC e principalmente nas obras da copa, investir em infraestrutura, dando prioridade à agricultura, no escoamento e armazenamento da produção, conceder incentivos na modernização do parque industrial, investir mais em educação, adequando às necessidades regionais; na saúde, dar prioridade ao saneamento básico, aumentos de leitos hospitalares e qualificação da mão de obra; na segurança, adequar as leis à realidade social, de forma a reduzir a impunidade, coibir o tráfico de drogas e de armas, em parceria com os países vizinhos produtores.
Deve-se ressaltar que todas as intervenções na economia, os resultados podem não ser imediatos, podendo atingir futuras administrações, devido à inércia, burocracia e controles da máquina governamental. Sendo assim, o governo da presidente Dilma, ainda colhe frutos do seu antecessor, que foi um governo populista, que atua mais com a emoção do que com a razão, trazendo, às vezes, inúmeras dificuldades e limitações para seus sucessores.
Os governos populistas possuem lado positivo, pois visam o assistencialismo, mas devem ser controlados e implementados com regras rígidas a curto, médio e longo prazo, de forma a não desestabilizar a economia, pois, distribuição de renda só é possível com economia sólida e crescimento sustentável.
O que fez a presidente Dilma?
A presidente Dilma, rotulada pelo ex-presidente Lula como excelente gerente – o que nunca foi, estando comprovado pelos seus fracassos nos empreendimentos particulares, deixou o sucesso subir além do seu ego, na sua forma prepotente, estilo adotado pelos incompetentes para não ser questionados, se julgam o dono da verdade, não aceitam diálogos, comandam com mão de ferro e distribuem terror entre seus comandados.
Formada em economia, pressionada pelos acordos firmados por Lula, que permaneceu como o grande o maestro do governo, colocando em pontos estratégicos pessoas da sua confiança, mesmo não tendo a simpatia da presidente, como é o caso do ministro Gilberto de Carvalho, extensão dos ouvidos de Lula no palácio, que se julga com mais poderes do que a da própria Dilma, pois, depois de Lula é a grande liderança do partido, após a era José Dirceu, coordenador de todos os movimentos sociais, os “sem…”, que a cada dia cresce, se tornado um apêndice ao governo, reivindicando poderes ilimitados, gastos sem restrições e sem prestação de contas, atua como se fosse um primeiro ministro numa estrutura republicana de governo.
A presidente Dilma, guiada e vigiada pelo governo anterior, pois, não conseguiria se eleger vereadora por Porto Alegre, local do seu domicilio eleitoral, tenta-se distanciar da sombra de Lula e emplacar a sua marca como gestora. Para tal, se aproxima do ministro Aloísio Mercadante, também economista de formação, que tem sérios conflitos com a matemática, passa o ser o seu fiel escudeiro e conselheiro.
A associação dos conhecimentos em economia dos dois e a subserviência do ministro Guido Mantega, cria um clima ideal para um campo de provas. Assim foi feito, Mantega estando ministro, curvou-se a cumprir ordem da chefe, contrariando todos os princípios fundamentais da economia, levando o país a uma recessão técnica, tendo sempre como pano fundo a manutenção de empregos e reflexos da crise mundial.
Mesmo com estes ingredientes desfavoráveis, o governo, pressionado pela ala extremista do seu partido e por lideranças sindicais de movimentos sociais, pensadores, artistas, jornalistas ligados ao partido, não faz o seu dever de casa, não implementando o choque necessário na economia; ao revés, faz vultosos investimentos em setores não prioritários, tentou passar para o mundo, no período da copa, quando o país estava no foco dos holofotes da mídia mundial, que aqui estava tudo bem, sem sofrer qualquer abalo da crise mundial, a economia brasileira estava blindada, o país era só maravilhas.
Com o fracasso da copa, após a humilhante derrota do Brasil para a Alemanha, esta bandeira foi descartada, mas, os investimentos superfaturados das arenas, dificuldade de viabilização de algumas delas, o que era para ser um passaporte para a história, passa a ser uma dor de cabeça, pois, com o aprofundamento da operação lava jato, fatalmente chegarão a envolvimentos de corrupção. A copa não rendeu os dividendos esperados pelo governo.
Mediante a insatisfação da população esclarecida, que tem acesso às redes sociais e outro meios de comunicação, o foco do governo passa a ser a população de baixa renda, mediante distribuição do programa bolsa família, como forma de permanecer no poder.
Quais os artifícios adotados pelo governo?
Prestações de contas maquiadas, pesquisas não consistente dos órgãos oficiais, se tornou rotina neste governo, enganando o povo pouco esclarecido, mas, diminuindo a confiabilidade do investidor estrangeiro e investidor interno.
Quais foram as propostas de campanha?
Durante o período das eleições, o governo vende a imagem do Brasil dos palanques, imaginação criativa do marqueteiro, que não tem qualquer responsabilidade do que foi apresentado, longe do Brasil real. Grande parte da população acreditou, principalmente a população mais carente, com receio da perda de benefícios conquistados, levou o PT a sair vitorioso das urnas, apesar de uma série de denuncias que envolveu o pleito.
Aí começa o calvário. Uma vitória ou uma derrota?
A presidente Dilma passa do discurso a ação real, luta pela sobrevivência de um governo eleito nas urnas e derrotado pelas suas próprias convicções. A Petrobras – empresa orgulho de uma nação, foi envolvida em um escândalo jamais visto pela humanidade, com prejuízos que extrapola o imaginável, dividas superior ao seu preço de mercado, bens penhorados pela justiça, investimentos futuros comprometidos com possibilidades de serem postergados, fiscalizada por órgãos de outro países. E não é só: a imagem da empresa, bem como sua credibilidade foi altamente desgastada perante a opinião pública mundial. O futuro desta grande empresa passou a ser verdadeiro tormento para seus potenciais investidores.
E aí Dilma, para onde vamos?
A vitória passou a ser um pesadelo, o risco do IMPEACHMENT, defendida por uma grande parcela da população, ronda o governo a cada dia, forçando-o a distribuir cargos a base aliada, como forma de conter os avanços das oposições no congresso, concentrando na aprovação das mudanças na lei de responsabilidade fiscal, que se tornou-se o “Calcanhar de Aquiles” do governo.
A base aliada pode até aprovar esta manobra do governo, até mesmo o STF negar o recurso de inconstitucionalidade feito pelas oposições, mas, os investidores, não enxergarão estes procedimentos com bons olhos, podendo, inclusive, deixar de realizar investimentos no Brasil.
A saída do governo até então, contra seus próprios princípios e de seu partido, como forma de restabelecer a credibilidade, anuncia uma equipe técnica de alto nível, sob o comando do futuro ministro da fazenda, o economista Joaquim Levy, conhecido no setor empresarial e financeiro para o comando da área econômica.
O futuro ministro possui larga experiência, passando por diversos governos, tendo seu início no governo de Fernando Henrique, da mesma escola de Armínio Fraga, muito criticado pela então candidata Dilma, de princípios ortodoxo, criterioso e determinado no controle dos gastos públicos, como homem forte e salvador da pátria. O próximo mandato da presidente Dilma pega carona no prestígio e confiança da equipe econômica, junto aos mercados e investidores, coisa que há muito tempo não acontecia, a presidente esta refém da equipe econômica.
A equipe econômica fará os arranjos necessários, ou seja, irá arrumar a casa, mesmo com a oposição de muitos da executiva do seu partido.
A presidente será duramente criticada dentro do seu partido o PT, dias difíceis estão por vir, tempestades e tornados estão a caminhos, desvia-los será uma missão difícil, mas, não impossível, desde que se tenha interlocutores habilidosos, transparência e menor interferência nos demais poderes.
O povo irá sentir que o Brasil do marqueteiro da campanha está a uma longa distancia do Brasil real. Para voltar a colocar o Brasil nos trilhos novamente, é uma meta difícil, que vai impor sacrifícios de todos os quais poderiam ser evitados se os quatros anos da Presidenta reeleita e que o Brasil perdeu fosse de mais seriedade, menos mentiras e mais competência.