Vamos Conversar
Stelio Dias
A Arrogância da República ou a República dos Arrogantes?
VITÓRIA [ AEI NEWS ] — Pois bem! Não preciso apresentar Rodion Romanovitch Raskólnikov, ou Rodion como Dostoievski o apresenta em Crime e Castigo. Para os da geração 140 caracteres e afins, apresentar Rodion personagem central do romance é quase uma ameaça. Para aqueles da minha geração, Dostoievski nos conduz a uma reflexão, perturbadoramente atual. Rodion, no romance de Dostoievski, ao cometer os crimes o faz dentro do auto entendimento de um ser diferente, especial e, portanto tudo podia. Era o entendimento de Dostoievski como os seres humanos se auto classificam: eu mando você obedece; eu exporto a verdade e você a receba como definitiva.
A trama policial do romance Crime e Castigo dá lugar a conceitos que mexem com as nossas cabeças e as formas como encaramos regras e conceitos. Quando li me senti meio perdido. Com o tempo parece que os conceitos vão se refazendo. Encontrei no personagem de Dostoievski, Rodion, a arrogância dos dirigentes atuais.
Tudo produzido pelo governo do PT é consequência da arrogância. Tudo eu sei, tudo eu posso. O Estado somos nós e vocês como no universo de Dostoievski foram feitos para obedecer, por que eu sou o bem. Quem não está do meu lado é o mau.
Com a arrogância – inimiga da democracia – o governo do PT conduziu a economia do País como se fosse um alegre parque de diversões. A entrevista do Ministro da Fazenda (30/03) criticando ele próprio e o Governo demonstra o que está sendo feito da e na economia. O Governo criou um welfare state de dominação social, sem compromissos. A política social do PT foi copiada do falecido deputado Roberto Cardoso Alves em discurso na tribuna da Câmara quando deu as costas para a decência politica e bradou: “ é dando que se recebe”. São Francisco de Assis se mexeu na tumba, mas aguentou o que ficou sendo um falso, embora aceito, corolário politico. Assim é dando a bolsa família que recebo votos. O PT usou as estatais e bancos oficiais como propriedade particular. Estimulou uma cultura politica de espertos.
Esqueceu as reformas estruturais que podia e tinha condições de produzir. Continua brincando de esconde – esconde com a Previdência Social. Usou e abusou das enganações dos marqueteiros. E fez da marquetagem um instrumento de governo, sempre apresentando slogans e outdoors como “Brasil pátria educadora” pátria essa de oito milhões de jovens de 11 a 15 anos fora da escola.
Enfim, chegamos aonde chegamos. Nada a acrescentar a tudo que o PT fez e não se faz e que todos conhecem. Contou com ajuda de um Congresso ruim e uma oposição autista (menção a síndrome em respeito aos portadores) e uma mídia sonâmbula e dependente. Essa colaboração recebida não faz do PT uma vítima, diga-se de passagem. A arrogância, ao contrário, produziu vítimas. Vítimas que somos nós, contribuintes e eleitores.
O (ou a, como preferem alguns) Lava Jato e o Mensalão estão impregnados na cultura arrogância. Expulso do PT e depois reintegrado o que disse Delúbio Soares aos seus pares do Partido? “Respeito a ingenuidade (dos integrantes do diretório). Não sei, no entanto, se imaginavam que o dinheiro vinha do céu, num carro puxado por renas e conduzido por um senhor vestido de vermelho”. Condenado qual foi sua (Delúbio) declaração? “Nós seremos vitoriosos, não só na Justiça, mas no processo político. É só ter calma. Em três ou quatro anos, tudo será esclarecido e esquecido, e acabará virando piada de salão”.
Os diálogos dos dirigentes, menção honrosa para Lula para o chulo linguajar, mostram como as instituições eram vistas e governadas. Em todas as conversas gravadas a presença permanente da arrogância. A arrogância era a principal arma usada para tratar os fatos, as pessoas e as instituições, como a Justiça, mencionada como um instrumento de uso particular.
Chegamos onde alguns analistas dizem não existir: o fundo do poço. A arrogância dos dirigentes do Governo continua cavando o que para eles não é ainda o fundo. O impedimento é tratado por um Congresso cujos dirigentes são investigados pela Justiça. O correspondente de uma TV alemã entrevistado disse: é extremamente difícil para eu explicar o que está acontecendo no Brasil e mais difícil ainda os alemães entenderem.
Nessa fase em que o impeachment é tratado e caminha para um desfecho mais uma vez a arrogância se faz presente. A arrogância, agora, acrescida de ameaças. Ameaças que o PT dessa vez não copiou do deputado Roberto Alves, preferiu deturpando a frase do Presidente João Figueiredo: “prendo, mato e arrebento” no caso da Presidente Dilma sofrer o impeachment. Lembrando que Figueiredo disse “quem for contra a abertura (política), eu prendo e arrebento”.
A preocupação com o Poder e o seu indevido uso não permitiu aos dirigentes de governo do PT refletir sobre o Crime e Castigo do celebre romancista russo. Reconheço que é muito para eles, mas podiam pelo menos dar uma melhor atenção à Bíblia, em particular o livro dos Provérbios: “a arrogância precede a ruína”.
Stelio Dias, jornalista, professor (Ufes e UnB), preside a AEI e exerce a vice presidência na FENAI e ABI-DF. Foi Deputado Constituinte na Câmara Federal.
REGISTRO
“A vida não está nada fácil. Se acho que crimes de responsabilidade cometidos por quem ocupa a Presidência da República devem ser punidos com o impeachment, sou golpista. Se acho que qualquer pessoa tem o direito de apresentar uma denúncia no Congresso pedindo o impeachment da presidente, sou fascista. Se acho que a corrupção não é justificada pelo ganho social, sou coxinha. Respiro fundo. E aplaudo Chico, Aderbal, Beth e Letícia por exercerem seu direito de se manifestar. Se depender de mim, ninguém vai ter exclusividade sobre o uso da democracia”.
Jornalista, Escritor, Cronista Artur Xexeo na sua Coluna do Segundo Caderno do “O Globo” de 3 de março de 2016
O LIVRO
Crime e Castigo de Fiodor M. Dostoievski, pertence ao patrimônio da literatura universal. Sua leitura nos remete à complexidade da condição humana. Voltei a refletir sobre o romance quando assisti ao extraordinário filme de Woody Allen, Match Point que em Dostoievski se inspira. Voltei a refletir sobre o romance quando assistimos o trágico quadro politico institucional que vivemos. A conduta moral dos dirigentes quando os princípios éticos não valem nada quando se trata da conquista do poder e de sua manutenção. Enquanto para o Dostoievski a consciência é uma pena maior a que o Estado impõe ao cidadao, para os dirigentes atuais as instituições que julgam seus crimes não pertencem as suas consciências pois até isso perderam para o conceito que carregam e querem impor à sociedade: os fins justificam os meios… Em Crime e Castigo a consciência do mal praticado e do crime é maior do que a prisão…
A FRASE
O PT e Dilma Rousseff reagiram às investigações das ladroeiras com uma conduta que foi da neutralidade-contra à pura hostilidade. Se hoje a rua grita o nome do juiz Sérgio Moro e pede “Fora PT”, isso se deve em parte à incapacidade dos companheiros de perceber que se tornaram fregueses num jogo viciado.”
Jornalista Elio Gaspari na sua coluna semanal do “O Globo” e “ Folha de São Paulo” de 30 de março 2016.
O FILME
Suite Francesa, é um filme que narra a invasão nazista num pequeno vilarejo da França. Quem foi assistir a um filme de guerra tendo como fundo um romance entre uma francesa e um oficial nazista se encantou com a trilha sonora. A história e o filme não existiriam sem a trilha que envolve o filme, a narrativa e os personagens. No mais, o filme leva a quem o assiste a mensagem do que a guerra faz com as pessoas e suas historias de vida, mesmo que vivam em cidades como aquele vilarejo da França. O diretor do filme quis mostrar através do tema central – o romance entre o oficial alemão e a francesa do vilarejo – é como se comportam as pessoas quando submetidas a situações extremas como a proporcionada pela guerra e pelo sistema totalitário como o nazismo. É um filme correto, temática cotidiana que vale assistir, quando nada para prestigiar as salas dos Cinemas do Shopping Jardins que nos salva da programação dos cinemarks e kinoplexs da vida…