Vamos Conversar…
Stelio Dias
Que houve Jorge Helio?
Meu caro Jorge Helio, morto você me assustou duas vezes. A morte e a notícia. Quando Jovem a morte para mim era uma indagação. Nunca uma constatação imposta pelo ciclo da vida. O susto maior veio da noticia pelo jornal. Lendo não parecia o que chamam de obituários. Necrológio, nem pensar. Parecia algo como denúncia. Dirigida a alguém que não podia se levantar para exercer o direito de resposta.
Morto você tem pelo menos o direito de esquecer. A Imprensa, Jorge, quando não tem razão a gente dá por amor a liberdade, embora ela mesmo não preze nem trabalhe para tanto. Paciência Jorge. Em algum lugar bom que você se encontre vai perdoá-los. Como nós fazemos todos os dias.
Seus familiares e pessoas que lhe são caras não podem nem poderiam exigir um necrológio do tamanho da admiração que devotam a você. O obituário é decisão do jornal. Pode ser de um simples anúncio pago, como pode ser um resumo das atividades de caráter publico do falecido. O que aconteceu com você Jorge Helio escapa até do “erramos” das redações e dos ombudsman.
A Constituição de 88 escreveu páginas e páginas de democracia, mas a mais importante e prática é exatamente a liberdade da atividade de comunicação sem censura. Ou como resumiu a ministra Carmem Lucia: “a época do cala boca acabou“. No seu caso Jorge Helio o mesmo texto constitucional assegura o direito de resposta proporcional ao agravo. Não observaram que morto você não poderia avaliar o agravo. Nem exercê-lo.
Seu pai, Promotor Público Helio Leal foi um exemplo de vida. Jovem precisando trabalhar para completar renda familiar, fui escrevente do cartório criminal, a época, sob responsabilidade do Jornalista Eloy Nogueira da Silva, mais tarde Diretor do Jornal A Gazeta. Logo viria ser recrutado para trabalhar no mesmo Jornal pelos Diretores Eugenio Pacheco Queiroz e General Darcy Pacheco Queiroz, como redator. O mesmo jornal que noticiou sua morte fugindo do habitual obituário.
Não sei por que, mas via em você a figura do seu pai. Quando me apresentei para trabalhar como escrevente do cartório da 4ª. Vara Criminal, onde ele era Promotor responsável, me entrevistou e disse “menino preste atenção: a sociedade que nos paga exige competência e confiança. A competência suprimos, mas a confiança não recuperamos se perdê-la. Nenhum de nós pode trair a confiança que a sociedade nos deu”…
Viu só Jorge Helio? isto foi dito por seu pai. Gravei. Quantos podem, hoje, Jorge Helio, repetir seu pai? Importante é dizer e recuperar do que você procurou ser: um profissional competente; bom aluno; bom colega, bom Engenheiro; bom filho; bom chefe de família. Imbatível nas relações de amizade. A lealdade era seu forte fazendo jus a sua raiz: Leal.
Exerça o que as divindades lhes deram com a morte: esquecer e perdoar.
Como os gladiadores no Coliseum dirigindo-se a Cesar, o Imperador: Morituri ti salutant. Nós que vamos morrer te saudamos….
O registro
Morrreu Harper Lee, escritora norte americana “O Sol é Para Todos” (To Kill a Mockingbird) – Levado às telas com Gregory Peck – Harper me fez ir ao cinema por duas vezes para ver e rever a historia real de um advogado que resolve defender um negro acusado injustamente de estupro. Escrita e apresentada no cinema antes do ato dos direitos civis do Presidente dos EUA, Lyndon Johnson e campanha de Martin Luther King – é uma história inspiradora dos movimentos civis norte americanos.
O filme
“O Sol é Para Todos”, considerado uma história inspiradora dos movimentos civis norte-americanos e com justiça considerado um dos 25 melhores filmes do século. Considerado o melhor drama de tribunais. Filme para ser apresentado e debatido em Faculdades de Direito pelo que ele inspira. Tem que ser visto.
A frase
“A única coisa que não se enquadra na regra da maioria é a consciência de cada um”. Harper Lee Escritora Norte Americana.
O Livro
O Sol é Para Todos – Harper Lee, ed Jose Olympio. Livro para ler e guardar. Inspirou o filme mencionado. Fui ao livro pelo filme e voltei ao livro depois de assistir o filme. Library Journal dos Estados Unidos considerou o melhor livro do século XX. A exemplo do filme o Livro é de leitura obrigatória para os estudantes de Direito.
Stelio Dias, jornalista, professor (Ufes e UnB), preside a AEI e exerce a vice presidência na FENAI e ABI-DF. Foi Deputado Constituinte na Câmara Federal.Stelio Dias, jornalista, professor (Ufes e UnB), preside a AEI e exerce a vice presidência na FENAI e ABI-DF. Foi Deputado Constituinte na Câmara Federal.