Cinema mudo com trilha sonora ao vivo em 44 sessões no Sesc Palladium de Belo Horizonte

BELO HORIZONTE [ ABN NEWS ] — Em tempos de cinema 3D e outras tecnologias utilizadas nas salas de cinema, o projeto História do Cinema Mudo ao Vivo, produzido e dirigido por Ana Gusmão, com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, propõe o caminho contrário. O experimento, que resgata grandes clássicos do cinema mudo, no período de 1877 a 1907, leva o espectador a apreciar a sétima arte de uma maneira nada convencional. O interessante é que a trilha sonora será feita no momento em que a imagem chega ao telão, como era feito nas primeiras exibições cinematográficas. Ao todo, serão exibidas 44 filmes históricos, divididos em duas temporadas, no Teatro Julio Mackenzie, no Sesc Palladium (rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro).

A primeira temporada, intitulada de “A Realidade”, é composta por 31 filmes. A estreia será nesta sexta-feira, dia 13, e pode ser vista até o dia 22, nas sextas e sábados, às 21h, e nos domingos, às 19h. A trilha sonora é do músico Maurício Ribeiro, com execução da pianista Joana Boechat. Os filmes apresentados têm como tema comum a ação cotidiana e todos são voltados para o cinema documental. Entre os selecionados estão “A Saída da Fábrica”, “São Francisco: Resultado de um Terremoto” e “Whisky Dewar”, considerado por muitos estudiosos como o primeiro filme publicitário da história. Todas as sessões têm ingressos a R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

O projeto se encerra com “A Fantasia”, nome escolhido para a segunda parte da montagem, que começa a ser exibida no dia 27 de abril. Os 13 filmes exibidos focam na transição para uma nova forma de se fazer cinema, com a criação de roteiros mais elaborados, além do surgimento de toda infraestrutura com atores, cenários, planos e efeitos. Vale lembrar que estas inovações foram responsáveis por transformar o cinema neste mercado de grandes produções, como é atualmente. Dentre os filmes que compõem essa etapa, será exibido o clássico “Viagem à Lua”, de Georges Méliès. As composições são de Gilberto Mauro, executadas pelo pianista Júlio Vinícius Bastos.

De acordo com Ana Gusmão, foram selecionados produções importantes da história cinematográfica, mas pouco conhecidas pelo público. Além disso, o espectador poderá viver uma experiência cênica-musical-visual ousada, tendo ao fundo uma trilha sonora executada por experientes pianistas. “A interpretação ao vivo destaca a trilha sonora sempre sentida, mas quase nunca percebida pelo grande público”, ressalta. Segundo Ana, a experiência é uma ótima oportunidade para entender como a musicalidade pode compor as emoções dos personagens e das demais situações.

O projeto

A História do Cinema Mudo ao Vivo tem como objetivo atingir duas esferas distintas, proporcionando o resgate da história do cinema, exibindo filmes que estão fora do circuito comercial e pouco vistos em mostras e exposições cinematográficas, além de incentivar a composição de trilhas sonoras com execuções ao vivo. A iniciativa também estimula o encontro entre essas duas artes (vídeo e música), perdido com o advento das novas tecnologias, criando novas formas de intervenções cênicas e musicais. O projeto, que foi iniciado em 2010, tem pesquisa e consultoria cinematográfica do professor José Américo Ribeiro, do Departamento de Cinema da Escola de Belas Artes da UFMG.

O cinema e a cidade

O primeiro encontro da capital com o cinema aconteceu em 2 de julho de 1898. Através de um pedido do comerciante Oscar Trompowski direcionado à Prefeitura, o exibidor William Mardock foi autorizado a mostrar para convidados algumas imagens geradas por um cinematógrafo, instrumento de projeção de filmes. A sessão foi realizada em uma casa da rua Goiás, de propriedade de Hermínio Alves, deixando o grupo surpreso com a perfeição e a nitidez das imagens.

Com a chegada de um cinematógrafo no Teatro Paris, na rua da Bahia, em 1912, Belo Horizonte inaugurava sua primeira sala de exibição: o cinema Odeon. O espaço se tornou um marco na cultura local. A entrada das pessoas na casa era descrita pelos registros da época como “estouro da boiada”, uma referência ao público numeroso que o local reunia. Oito anos depois, surgia o cinema Pathé, que tinha como atrações a orquestra do professor Bussachi e o Pathé Jornal, noticiário cinematográfico que também possuía versão impressa.

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